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DUDA OLIVEIRA – Artista plástica, socióloga política e advogada.
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FOTO: Macarena Lobos.
A influência da política cultural da Europa sobre a formação da sociedade brasileira
Minha viagem a Europa, no início deste ano, aguçou fortemente a vontade de analisar a influência europeia na construção dos valores e costumes miméticos da sociedade brasileira e a desconstrução dessa, para que houvesse a formação da identidade cultural da nação.
O Brasil republicano, nasceu Macunaíma, sem hino, sem bandeira, envergonhado de suas representações culturais e com muita vontade política de limpar de sua história a influência cultural portuguesa e a lama dos sapatos do período imperial, escravocrata e rural. Estruturado em vilas, lotes pequenos, ruas estreitas e mal iluminadas, para mimetizar, aos moldes da Europa dita civilizada, a capital do Brasil da época.
Assim, a capital da República brasileira, foi “Haussmannizada” no estilo da Champs Elisèes, parisiense. A política urbanística de Pereira Passos, reinventou dois Brasis, um, dos intelectuais letrados, ostentando aparentes insígnias de pertencimento aristocrático social e cultural, frequentadores dos bulevares, cafés e teatros, e o outro, com o mesmo destino de exclusão dos despossuídos dos distritos superpovoados de Montmartre, La Villette, Belleville, dentre outros, tão bem descritos por Victor Hugo, em sua obra, Os Miseráveis.
O espíritu de Montmartre nos apresentava o triunfo da liberdade do povo oprimido contra as convenções da sociedade burguesa da Belle Époque. O escárnio da irreverência era uma reação da boemia intelectual, de poetas e artistas, contra a hipocrisia manifestada. Os cafés, cabarés, circos, teatros, dinamizavam a vida intelectual e cultural de uma sociedade que ignorava as necessidades da sociedade de massa.
Na capital do Brasil, ocupações irregulares, desprovidas de infraestrutura e condições sanitárias, deixavam evidentes no topo dos morros, a população de renegados e as fragilidades do então novo sistema urbanístico. Este Brasil, feito de miscigenação, cresceu amorfo, porém inteiro, criativo, com memória, propagandista de sua cultura com linguagem artística organizada e esteticamente respeitada no mundo, fazendo uma revolução silenciosa e emancipadora do Brasil europeizado.
A personificação da imagem deste brasileiro dos morros, estava repleta de características regionais. As construções de personagens como Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, Macunaíma, de Oswaldo de Andrade, Abapuru, de Tarsila do Amaral, bem como, os criados anos depois, com características negativas, como o Zé Carioca, pela Walt Disney Company e Amigo da Onça, de Péricles de Andrade Maranhão, representavam os aspectos culturais da malandragem, preguiça, esperteza e apresentava ao mundo, a maneira canhestra da identidade cultural com propriedade conceitual da “rés pública” brasileira.
As primeiras manifestações artísticas de temas brasileiros com feições tropicais ocorreram em São Paulo, promovidas pelas exposições em 1913, de Lasar Segall, pintor lituano que se transferiu para o Brasil e abrasileirou suas pinturas, bem como, por Anita Malfatti, em 1917, recém-vinda de Paris, a qual foi duramente criticada por Monteiro Lobato, em um artigo de jornal, que tratava da modernidade de sua arte.
A desmedida de Monteiro Lobato, neste episódio com Anita, foi fortemente criticada e ontologicamente representativa para história da arte. Em 1922, ocorreu o movimento modernista de defesa da identidade cultural, que reuniu todas as classes artísticas na Semana da Arte Moderna, em 1922, com espetáculos e exposições, reunindo personagens de nossa história da arte, como Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Graça Aranha, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Mário Andrade, dentre outros com propriedade para representar os interesses culturais. O resultado foi o manifesto do Movimento Antropofágico, de 1928, liderado por Oswald de Andrade, definindo-se assim, de modo definitivo, a cultura brasileira.
Duda Oliveira, artista plástica, socióloga política e advogada.