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COLUNA DUDA OLIVEIRA

Tempo de leitura: 2 minutos

“A ruína pode nos dizer mais sobre quem olha que sobre o que é olhado.” (Weiwei)

Confesso que tenho muita resistência em lançar um olhar poético sobre a paisagem de destruição da Baía de Guanabara. Percebo as pessoas admirando o pôr do sol, a paisagem e tudo que envolve “o belo e o Amaro”, parafraseando Caetano Veloso. Não consigo sentir o espetáculo sem perceber o pano de fundo. Vejo uma Baía em coma, nela estão presentes o fracasso de todos nós, as contradições dos períodos históricos anteriores e o fim de qualquer utopia.

Ao mesmo tempo, percebo que a crise sanitária criada pela pandemia nos deu a oportunidade da redenção da verdade mais explícita sobre o fim de tudo: a apatia está nos matando. Urge que tenhamos um posicionamento sobre a natureza, afinal “Ricardos Salles” se criam em terrenos férteis de negação.

 É tempo de olhar a natureza e observar que a mesma tem o poder de retomada da criação e de apropriação da construção humana, numa espécie de “impacto ambiental reverso”, a força da natureza envolve as carcaças abandonadas de navios, projeta as estruturas amorfas desses e evidencia as frágeis relíquias de ferros corroídos. Camadas de materiais minerais se depositam no fundo das embarcações, cracas de ostras fazem da lata velha um habitat, pequenos vegetais emergem rasgando o metal pesado, berçários de peixes transformam o raso espelho d’água em aquário: Paradoxo Industrial ou Utopia da Modernidade?

A Baía de Guanabara é uma instalação em exposição permanente de obras produzidas por seus observadores; não obstante, o desconforto que causa e o medo de ser capturado pela obra humana representativa de crises culturais, sociais e políticas, desencoraja e constrange os possíveis aventureiros.

“Perigo e Oportunidade” são dualidades de palavras compostas no idioma chinês. Wei-ji é uma expressão utilizada pelos orientais para definir que só é possível ter evolução cultural humana, quando o perigo passa a ser uma oportunidade de reflexão. Formamos um todo orgânico e a compreensão disso faz de nós, protagonistas do espaço transformador, uma espécie de descoberta do corpo em experimentação Duchampiana, um receptáculo aberto a sentir, dando expressão real e total à contemplação.

Crédito de fotos: Toni Continho

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